quinta-feira, agosto 30, 2007

No Elevador do Filho de Deus



A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida

Que eu já tô ficando craque em ressurreição.
Bobeou eu tô morrendo.
Na minha extrema pulsão
Na minha extrema-unção
Na minha extrema menção de acordar viva todo dia.
Há dores que sinceramente eu não resolvo, sinceramente sucumbo.
Há nós que não dissolvo e me torno moribundo de doer daquele corte
do haver sangramento e forte que vem no mesmo malote das coisas queridas.
Vem dentro dos amores, dentro das perdas de coisas antes possuídas,
dentro das alegrias havidas.
Há porradas que não tem saída, há um monte de “não era isso que eu queria”

Outro dia, acabei de morrer depois de uma crise sobre o existencialismo.
3º mundo, ideologia e inflação…
E quando penso que não me vejo ressurgida no banheiro feito punheteiro de chuveiro
Sem cor, sem fala nem informática nem cabala
eu era uma espécie de Lázara poeta ressucitada, passaporte sem mala
com destino de nada!
A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida...

ensaiar mil vezes a séria despedida, a morte real do gastamento do corpo
a coisa mal resolvida daquela morte florida
cheia de pêsames nos ombros dos parentes chorosos
cheio do sorriso culpado dos inimigos invejosos
que já to ficando especialista em renascimento
Hoje, praticamente, eu morro quando quero:

às vezes só porque não foi um bom desfecho
ou porque eu não concordo
ou uma bela puxada no tapete
ou porque eu mesma me enrolo.
Não dá outra: tiro o chinelo…
E dou uma morrida!
Não atendo telefone, campainha…
Fico aí camisolenta em estado de éter
nem zangada, nem histérica, nem puta da vida!
Tô nocauteada, tô morrida!
Morte cotidiana é boa porque além de ser uma pausa

não tem aquela ansiedade para entrar em cena
É uma espécie de venda
uma espécie de encomenda que a gente faz
pra ter depois um produto com maior resistência
onde a gente se recolhe (e quem não assume nega)
e fica feito a justiça: cega.
Depois acorda bela, corta os cabelos
muda a maquiagem, reinventa modelos,
reencontra os amigos que fazem a velha e merecida pergunta ao teu eu: “Onde cê tava?
Tava sumida, morreu?”
E a gente com aquela cara de fantasma moderno,
de expersona falida:
- Não, tava só deprimida.

Elisa Lucinda

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