quarta-feira, julho 05, 2017

Sinto dores.

Sinto dores.
Não dores de amores.
Sinto dores
Sinto dores
Sinto dores por carregar pesos.
Não pesos físicos.
Sinto dores.
Sinto dores por transportar pra lá e pra cá sentimentos de culpa
Algum remorso
Poucos arrependimentos.

Ai como sinto dores!
Minhas costas reclamam, pra quê tanto?
Pra quê esse muito?
Pra que essa consumição?

Ai como dói...
Como dói o não dito
O pensamento vago
A interrogação não respondida
A curiosidade não matada
A reciprocidade não vinda.

Sinto dores pelo que vivi e
Muito pelo que gostaria de ter vivido
Uma pouca tristeza de não ter arriscado mais um pouco.
Sinto dor pelo medo e pelo teatro dos papéis sociais.

Sinto dores pela solidão...
Minha placeba companheira.

terça-feira, julho 04, 2017

Tempo

Ventos... tempos de chuva...
Inverno por dentro e por fora.
E o passado me volta.
Nesse meu envelhecer, nestes meus anos já gastos e mais o porvir eu sempre tenho o passado ao meu redor, rondando como passarinhos a minha mente já tão atarantada de tanto pensar.
Ditados cibernéticos imitam a filosofia e soltam ao mundo brados existenciais como balas que só por abrir já se tem o efeito.
Oh ! ledo, ledo engano dos desejos que estão fora e não dentro.
O quanto é difícil a tal das atitudes e do modo de pensar igual as vontades.
Ai que vida mais digna de tragicomédias e melodramas sinceros e cheios de "se"...
Vou caminhando e dentro do meu gesso levo esse anos comigo pensando no quanto vou lembrar quando estiver lá na frente , no futuro ancião.
Igual a quando eu tinha dez anos e me olhava no espelho pensando quando iriam nascer os meus peitos, se eu trabalharia e se saberia pegar um ônibus sozinha.
Continuo do mesmo jeito... igualzinha àquela garota de dez anos, pensando nos meus 80 ou 90.
E a vida tem disso, passados que estão tão intrinsecamente ligados ao ser que mais parecem que são presentes, teimando em se encerrar. Mas, como? Eu ainda não descobri.
E assim vou escrevendo pra desocupar a mente e ver se algum clarão acende.

segunda-feira, julho 03, 2017



E nesse frio que há muito minha cidade não vivia, sinto eu um frio na espinha.
Daqueles que prenunciam uma solidão presente e futura, um frio daqueles que prenunciam o vazio das coisas, das vozes, dos movimentos.
Aquela profecia de um quarto humilde, com alguns poucos antigos adereços de estimação, uma cadeira onde sentada se lembra de tudo o que viveu num embaraço de cenas e datas, de alegrias e tristezas.
Sim, às vezes a profecia é meio escura como as luzes apagadas dos espaços não mais frequentados, onde não mais circulam gargalhadas, latidos de cães, brigas passageiras e contrariedades.
Um ser apenas velho, esquecido em um lugar qualquer que lhe caiba o mínimo de condição de existência até os seu último dia de posse do seu corpo material.
A solidão faz a gente pensar nisto e nas evoluções dos dias e nos caminhos de todos, onde uma família não é uma família, apenas um conjunto de pessoas reunidas por laços de sangue e não de amor.