quarta-feira, outubro 31, 2007

Ser ou não ser, eis a questão!
Era uma vez uma garota que nasceu numa família com princípios bem edificados, alto nível intelecutal e reputação ilibada.
Nem pobre, nem rica; apenas com condições de ter uma boa educação e conviver em ambientes sociais considerados éticos e morais.
Descendente de homens cultos e prósperos em suas vidas profissionais, cresceu dentro de uma redoma, protegida pela família que infelizmente a transformou numa criatura extremamente insegura quanto à existência fora dos grilhões familiares.
Depois de alguns anos, é claro que esta garota cresceu e como toda garota dos anos 70, nos anos 80/90 rebelou-se.
É que em suas veias corre um sangue meio arte, meio classe que a transforma hoje na "garota alternativa".
De alternativa esta pessoa nada tem.
Está nela enraizada toda a educação quatrocentona que valoriza títulos, posses, dinheiro, estabilidade, sobrenomes e etiquetas. A isso muitos chamam de "berço". Pode ser, não acho ruim de todo. Mas, no mais das vezes, chamam-na de fresca ou soberba...
Acredito que é, no mínimo, ótimo saber entrar e sair de qualquer lugar; seja o Palácio das Princesas, seja a birosca do Zé. Saber se portar na sociedade de uma maneira geral é no mínimo saudável. Sabe se comportar à mesa de um restaurante é no mínimo civilizado. Observar ao seu redor é no mínimo inteligente. Há quem pense o contrário. Talvez sejam estes os rebeldes.
Mas, voltando a "Ela", hoje é uma mulher Balzaquiana, pós-graduada, que guarda em seus olhos e sua mente muitas letras e palavras de tantos livros que já leu. Pessoa culta, simpática, sorridente. Que já passou por algumas experiências, mas a pior delas está vivenciando agora.
Só agora a Balzac de Honoré tem sob suas mãos as rédeas de sua vida. Responsável única pelo seu futuro que agora mostra-se muito sem planos. Muito sem objetivos. Muito "agora" demais.
Só agora a Balzac de Balzac saiu de verdade das sombras enormes da árvore familiar e marital. E essa criatura que era uma garota no início do texto (mais ou menos década de 80), hoje é uma mulher de 30 que busca incessantemente aprender a viver pelas próprias pernas.
Difícil. Ela cresceu atrasada. Protegidinha que foi pela família e marido. Tudo por ela faziam e agora ?
Decisões a tomar, projetos a elaborar e cumprir e um futuro já meio curtinho pra traçar...
Voilà !

segunda-feira, outubro 29, 2007

Escolhas

Recebí isso através de uma amiga por e-mail...

Durante um seminário para casais, perguntaram ao marido:
"Sua esposa lhe faz feliz?"; "Ela lhe faz feliz de verdade?"
Neste momento, a esposa levantou seu pescoço, demonstrando segurança.
Ela tinha "quase" que certeza absoluta que seu marido diria que sim, pois ele jamais havia reclamado de algo durante o casamento.
Todavia, seu marido lhe respondeu com um "Não", bem redondo...
"Não... Não; não me faz feliz" (neste momento, a esposa já procurava a porta de saída mais próxima). Não me "faz" feliz... EU SOU FELIZ".
"O fato de eu ser feliz ou não, não depende dela; e sim de mim." E continuou
dizendo:
"Eu sou a única pessoa da qual depende a minha felicidade."
Eu determino ser feliz em cada situação e em cada momento da minha vida; pois se a minha felicidade dependesse de alguma pessoa, coisa ou circunstância, sobre a face da Terra, eu estaria com sérios problemas.
Tudo o que existe nesta vida muda constantemente... o ser humano, as riquezas, meu corpo, o clima, meu chefe, os prazeres etc... E assim poderia citar uma lista interminável.
Decido ser feliz.... Às demais coisas eu chamo "experiências"; esqueço-me das experiências passageiras e vivo as que são eternas; amar, perdoar, ajudar, compreender, aceitar, consolar, "família".
Lembro-me de viver de modo eterno.
Há pessoas que dizem: "Hoje não posso ser feliz porque estou doente, porque não tenho dinheiro, porque faz muito calor, porque alguém me insultou, porque alguém deixou de me amar, porque alguém não soube me dar VALOR..."
SEJA FELIZ, mesmo que faça calor, mesmo que esteja doente, mesmo que não tenha dinheiro, mesmo que alguém tenha lhe machucado, mesmo que alguém não lhe ame ou não lhe dê o devido valor.
Peça apenas a Deus para que Ele lhe dê serenidade para aceitar as coisas que você não pode mudar, coragem para modificar aquelas que pode, e sabedoria para reconhecer a diferença.

"A VIDA É O MOMENTO" ... E A FELICIDADE NÃO TEM PREÇO!!!

SEJA FELIZ COM VC MESMO(A) !!!!
Cheguei no trabalho ...
Mais uma noite de insônia para minha coleção.
Onde vou parar com isso ?
Tudo está me tirando do sério. Gata no cio, perdas, um Tio neurastênico na minha sala.
Deixei-o no aeroporto agora.
Se eu acreditasse em cartomantes passaria uma tarde inteira numa delas.
A sensação de ausência total de futuro é muito incoveniente.
Bem que poderia cair uma bomba H só em cima da minha cabeça pra ver se acontece alguma coisa.
Minha casa está tão desorganizada quanto a minha cabeça.
Não consigo por em prática planos simples, como arrumar a casa, ler os livros mais prioritários, organizar meu parco orçamento, enfim.
Tô estagnada.
Mais parece que estou na trama de uma teia de aranha venenosa que está em sugando as energias.
Oxalá que isso acabe logo !!!

domingo, outubro 28, 2007

OM - O Corpo de Deus


As criaturas da noite
Num vôo calmo e pequeno
Procuram luz aonde secar
O peso de tanto sereno
Os habitantes da noite
Passam na minha varanda
São viajantes querendo chegar
Antes dos raios de sol
Eu te espero chegar
Vendo os bichos sozinhos na noite
Distração de quem quer esquecer
O seu próprio destino
Me sinto triste de noite
Atrás da luz que não acho
Sou viajante querendo chegar
Antes dos raios de sol
Eu te espero chegar...
Me sinto triste de noite...
Meu primeiro consolo da noite: Camila nos meus braços.
Como ela está linda !
Tão doce... deu-me um largo sorriso quando me viu. Veio para o meu colo e fiquei cantando canções de ninar para ela adormecer, tinha acabado de mamar quando cheguei.
Tão linda e tão indefesa...
Como Eu neste momento.
Dentro de roupas pretas, óculos de intelectual e um rabo de cavalo, existe uma criatura completamente frágil, machucada, triste e se sentindo completamente indefesa.
É difícil lidar com perdas...
Principalmente com aquilo que você nunca teve e se iludia achando que tinha.
A tristeza é mais profunda, pois é a certeza do auto-engano.
Não querer encarar a realidade das coisas...
Acostumar-me com muitas coisas tenho agora.
Perda é sempre muito ruim. Fim é sempre muito ruim.
Não ter certeza do que estar por vir é muito ruim.
Solidão é ruim. Ausência é ruim.
Não ter pra quem dar o seu amor é ruim.
O que faço com ele agora ?
Tenho de remodelá-lo e distribuir para os animais, o trabalho, os amigos, a família.
Hoje Gustavo me deu um abraço, coisa rara... parece que ele tava adivinhando que eu precisava.
Queria ter encontrado um escrito de Clarice, um poema de Pessoa, uma música qualquer que pudesse se dizer por mim. Mas, agora minha cabeça ainda não tem a clareza das coisas...
O desespero ainda vai bater. Meu Deus !!! odeio desespero.

A Lua

A lua
Quando ela roda é nova
Crescente ou meia-lua
É cheia
E quando ela roda
minguante e meia
Depois é lua novamente
Quando ela roda é nova
Crescente ou meia-lua
É cheia
Quando ela roda minguante e meia
Depois é lua nova
Mente quem diz que é lua velha
Mente quem diz
Que a lua é velha...

sábado, outubro 27, 2007

... É inútil receber a aceitação dos outros, enquanto nós mesmos não nos doarmos a auto-aceitação do que somos. Quanto à nossa fraqueza, a parte mais forte nossa é que tem que nos doar ânimo e complacência. E há certas dores que só a nossa própria dor, se for aprofundada, paradoxalmente chega a amenizar.
No amor felizmente a riqueza está na doação mútua. O que não significa que não haja luta: é preciso se doar o direito de receber amor. Mas, lutar é bom. Há dificuldades que só por serem dificuldades já esquentam o nosso sangue...

Clarice Lispector
... Dor de amor, quando não passa
É porque o amor valeu ...

Dory Caymmi/Nelson Motta

sexta-feira, outubro 26, 2007

Minutos de Sabedoria

Estou no trabalho...
Me peguei viajando por onde nem sei...
Pra não cair mais ainda na tristeza, abri o livrinho mágico das boas mensagens.
Veio pra mim:

Não desanime, não pare no primeiro degrau da ascensão.
Se a dúvida o assaltar, se a tristeza bater à sua porta, se a calúnia o ferir, erga sua cabeça corajosamente e contemple o céu iluminado e tranquilo.
Embora recoberto de nuvens, você sabe que elas passarão, e o céu voltará a brilhar.
Siga à frente, que todas as nuvens da existência também hão de passar e voltará a brilhar o sol da alegria.

Vou tentar...

100 Anos do Prof. José Aragão

Hoje foi um dia especial.
Me arrumei muito bonita para homenagear os 100 anos de meu Avô Professor José Aragão.
Seu primogênito José Maria Aragão Melo, compilou um livro um pouco do trabalho do meu avô como Jornalista, Historiador, Prefeito, Educador e Ex- Seminarista.
Uma bela história de vida.
Acredito que nenhum dos seus descendentes chegará perto das realizações que concretizou em vida: Vários jornais, gestÃo de uma cidade, fundação de um Museu e de um Instituto Histórico e Geográfico, considerado o melhor de toda região interiorana de Pernambuco, enfim ... muitas obras.
Adorava ler, tocava ocarina no Seminário de Olinda, de onde largou a batina para se casar com a índia Maria Juliana, minha avó.
Sou muito convencida e cheia de mim por ser em unanimidade a única neta parecida fisicamente com ela. No temperamento já tem mais gente. Baixinha, braba e muito sorridente.
Hoje fomos, toda a família, as celebridades em Vitória de Santo Antão.
O evento começou às sete da noite e se estendeu até meia noite, com a noite de autógrafos e fotos memoráveis de filhos, netos e bisnetos.
Cada vez que vou ao Instituto me encanto. Relíquias centenárias, objetos utilizados desde a época dos escravos, fotos do século XIX, além de ter sido temporariamente a casa onde o Instituto Histórico funciona, Paço Imperial para a estadia de D. Pedro II e comitiva.
E o mais chique de tudo: minha mãe nasceu na cama em que o Imperador dormiu. Falando assim parece gozação, mas, imaginem:
Mobílias que ao longo do tempo servem há várias gerações.
A história é algo fascinante.
Sou muito orgulhosa de ser uma Aragão. Pena que não tenha puxado ao meu Avô na inteligência e no intelecto.
Puxei à minha Vó, como meu avô me chamava, das netas, Eu era a "Pimentinha".

Feliz Aniversário meu Vô !!


quinta-feira, outubro 25, 2007

Ninguém tem um Amoreco como Eu tenho !!!!!
Hoje foi demais da conta Amoreco !
Onde vou arrumar outro amigo pra me ajudar a afogar as mágoas ?
Só o Amoreco pra fazer rir numa hora destas !!
Se liga Amoreco !
Tu és demais !

quarta-feira, outubro 24, 2007

Mundo novo, Vida nova

Buscar um mundo novo, vida nova
E ver, se dessa vez, faço um final feliz
Deixar de lado
Aquelas velhas estórias
O verso usado
O canto antigo
Vou dizer adeus
Fazer de tudo e todos bela lembrança
Deixar de ser só esperança
E por minhas mãos, lutando me superar
Vou traçar no tempo meu próprio caminho
E assim abrir meu peito ao vento
Me libertar
De ser somente aquilo que se espera
Em forma, jeito, luz e cor
E vou
Vou pegar um mundo novo, vida nova


Gonzaguinha

terça-feira, outubro 23, 2007

Choro Bandido

Mesmo que os cantores sejam falsos como eu
Serão bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo miseráveis os poetas
Os seus versos serão bons
Mesmo porque as notas eram surdas
Quando um deus sonso e ladrão
Fez das tripas a primeira lira
Que animou todos os sons
E daí nasceram as baladas
E os arroubos de bandidos como eu
Cantando assim:
Você nasceu para mim
Você nasceu para mim
Mesmo que você feche os ouvidos
E as janelas do vestido
Minha musa vai cair em tentação
Mesmo porque estou falando grego
Com sua imaginação
Mesmo que você fuja de mim
Por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão
E eis que, menos sábios do que antes
Os seus lábios ofegantes
Hão de se entregar assim:
Me leve até o fim
Me leve até o fim
Mesmo que os romances sejam falsos como o nosso
São bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo sendo errados os amantes
Seus amores serão bons.


Edu Lobo - Chico Buarque/1985
Para a peça O corsário do rei de Augusto Boal

Exausto

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar

a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.

Adélia Prado

segunda-feira, outubro 22, 2007

Tá bom , mas tá ruim

Dizem os otimistas que quando nós nos sentimos na pior das situações, é porque algo de muito bom está para acontecer.
Que os anjos ouçam os otimistas!
Estou numa maré muito braba. Tudo está ruim.
Trabalho,
A inexistência de amor verdadeiro,
A meu canto que não tenho,
Minha vida que não está sob as minhas rédeas.
Isso me deixa mal, muito mal.
Me pego sempre pensando no que fiz e no que estou fazendo agora.
Tá tudo errado.
Tô fazendo caca em cima de caca.
Por medo, estou deixando de tomar decisões importantes e de tomar novos rumos em todos os aspectos.
Prendo-me a nada.
Entre a cosnciência das coisas e as ações para mudá-las existe uma ponte grande, de madeira velha que só eu posso atravessar.
Largar pra lá ilusões, desmanchar no corpo, na mente e no coração esteriótipos falsamente construídos sobre os outros.
Olhar um pouco pra mim e ver o quanto sou e acho que não sou.
Tô com vontade de me virar do avesso !
Dar um reset e apagar uns arquivos e uns programas antigos, que foram instalados, mas na verdade não são compatíveis comigo.

domingo, outubro 21, 2007

Das Vantagens de Ser Bobo

O Bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo.
Ser Bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o Bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O Bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes o Bobo é um Dostoievski.
Mas, em contrapartida, a vantagem de ser Bobo é ter boa fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo.
Aviso: não confundir Bobos com Burros.
Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o Bobo não prevê.
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Clarice Lispector

sábado, outubro 20, 2007

Passagem das Horas

... Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

... Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.

Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.

... Seja o que for, era melhor não ter nascido,

Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é.

... Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo,

Mas tudo ou sobrou ou foi pouco - não sei qual - e eu sofri.
Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos,
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda gente,
Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo,
E para mim foi sempre a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.

... Não sei sentir, não sei ser humano, conviver

De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra.
Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser quotidiano, nítido,
Ter um lugar na vida, ter um destino entre os homens,
Ter uma obra, uma força, uma vontade, uma horta,
Unia razão para descansar, uma necessidade de me distrair,
Uma cousa vinda diretamente da natureza para mim.

... Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo,

Eu torno-me sempre, mais tarde ou mais cedo,
Aquilo com quem simpatizo, seja uma pedra ou uma ânsia,
Seja uma flor ou uma idéia abstrata,
Seja uma multidão ou um modo de compreender Deus.
E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo.
São-me simpáticos os homens superiores porque são superiores,
E são-me simpáticos os homens inferiores porque são superiores também,
Porque ser inferior é diferente de ser superior,
E por isso é uma superioridade a certos momentos de visão.
Simpatizo com alguns homens pelas suas qualidades de caráter,
E simpatizo com outros pela sua falta dessas qualidades,
E com outros ainda simpatizo por simpatizar com eles,
E há momentos absolutamente orgânicos em que esses são todos os homens.
Sim, como sou rei absoluto na minha simpatia,
Basta que ela exista para que tenha razão de ser.

... Multipliquei-me, para me sentir,

Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-rne,
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente.

... Fui para a cama com todos os sentimentos,

Fui souteneur de todas ás emoções,
Pagaram-me bebidas todos os acasos das sensações,
Troquei olhares com todos os motivos de agir,
Estive mão em mão com todos os impulsos para partir,
Febre imensa das horas!
Angústia da forja das emoções!
Raiva, espuma, a imensidão que não cabe no meu lenço,
A cadela a uivar de noite,
O tanque da quinta a passear à roda da minha insônia,
O bosque como foi à tarde, quando lá passeamos, a rosa,
A madeixa indiferente, o musgo, os pinheiros,
Toda a raiva de não conter isto tudo, de não deter isto tudo,
Ó fome abstrata das coisas, cio impotente dos momentos,
Orgia intelectual de sentir a vida! ...

Álvaro de Campos

quinta-feira, outubro 18, 2007

Vendaval

... E, pela alta noite que fazes mais'scura,
Pelo caos furioso que crias no mundo,
Dissolve em areia esta minha amargura,
Meu tédio profundo. ...


... Meu coração triste, meu coração ermo,

Tornado a substância dispersa e negada
Do vento sem forma, da noite sem termo,
Do abismo e do nada!


Fernando Pessoa, 16-2-1920.

quarta-feira, outubro 17, 2007

Estou com uma enorme dor de cabeça...
O cinema com o longa ainda não acabou.
A preocupação que consome minha gastrite junto com os ansiolíticos e tranquilizantes continua também.
Ontem tive uma conversa que para mim não foi totalmente esgotada, porém o meu emocional estava muito à flor da pele para que a minha razão pudesse concatenar todas as informações.
O ser humano é uma criatura deveras complicado. Jamais entenderemos todo os seus meandros.
Hoje acordei com uma forte dor de cabeça e uma equipe de faxineiros praticamente desmontadno a minha casa, colocando-a pelo avesso literalmente.
Quando saí do quarto, móveis atravessados, os quadros fora da parede, cadeiras no jardim, uma verdadeiro pandemônio...
Às 7:20h da manhã ...
Sentei-me em jejum no terraço com a minha gata e me senti a própria rainha da inglaterra com os seus súditos serviçais fazendo o trabalho pesado, enquanto eu sentada na minha poltrona real assistia à cena.
Extremamente pedante !!!
Quem sou Eu ?
Foi aí que vi que Eu não sou ninguém perto dessas pessoas que madrugaram para estar na minha casa, pegaram ônibus cheio provavelmente, sabe-se lá se estavam alimentados. Tudo isto por um " bico" .
e Eu, aqui na minha realeza, reclamando da vida. Como sou hipócrita !
Vou ao trabalho de motorista particular, almoço em casa todos os dias, volto pra casa de carona na porta e quando chego em casa a empregada da minha mãe me bajula.
O mundo é uma contradição !
Eu preciso cair na realidade e deixar de lado as pompas.
Mas, ao mesmo tempo, ouso defender-me.
Não estou assim só por culpa minha. Nasci numa família simples porém extremamente tradicionalista e quatrocentona. Onde são valorizados quase tudo: das ideologias antigas, aos móveis de antiquário.
Não acho isso errado. É apenas um "modus vivendi" .
Me incomoda a falta de educação básica das pessoas. Pedantemente falando, a falta de berço.
Me criticam por isso. Eu não critico a vida de ninguém, nem dou pitaco em como as pessoas deveriam ser ou deixar de ser.
Acho isso uma forma respeitosa de saber viver com a sociedade. Se eu não gosto, simplismente me retiro. Mas não vou mudar por que os outros me acham assim ou assado. Ninguém muda pq eu não gosto.
Acho que a cada dia que passa, estou cada vez mais extra-terrestre mesmo !
Nada como tapas de luvas de pelica como o meu despertar hoje na minha casa para fazer valer e manifestar os meus valores e ver deles os que estão arcaicos, os que eu vou continuar conservando e o que eu tenho de fazer a partir de já para mudar minha vida.

terça-feira, outubro 16, 2007

Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!

Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!

O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.


Fernando Pessoa, 2-8-1933.

segunda-feira, outubro 15, 2007

"...Como seria o amor entre duas esperanças?
Verde e verde, e depois o mesmo verde que, de repente, por vibração de verdes, se torna verde.
Amor predestinado pelo seu próprio mecanismo semi-aéreo.
Mas onde estariam nela as glândulas de seu destino, e as adrenalinas de seu seco e verde interior?
Pois era um ser oco, um enxerto de gravetos, simples atração eletiva de linhas verdes.
Como Eu? Eu. Nós? Nós.
Nessa magra esperança de pernas altas, que caminharia sobre um seio sem nem sequer acordar o resto do corpo, nessa esperança que não pode ser oca, nessa esperança a energia atômica sem tragédia se encaminha em silêncio.
Nós? Nós."
Clarice Lispector
Insônia...
Uma e vinte quatro da manhã ...
Meia-noite e meia fechei toda a casa, apaguei as luzes, desliguei a TV e fui ao meu quarto.
O ritual para dormir foi feito com zelo...
Troquei de roupa devagar, tive preguiça de tomar banho, apesar do cheiro forte de cigarro em meus cabelos.
Arrumei a cama e ainda zoavam aos meus ouvidos a barulheira da conversa de bar.
Muita cerveja, muito cigarro, muita conversa para maiores de 18 anos...
E Eu alí, no bolo de chocolate com vinho do porto...
Alheia a tudo ...
Sorria, dava gargalhadas e me confraternizava, mas ... minha mente estava não sei onde.
Em alguns momentos não querendo estar ali e sim no aconchego da minha casa, dos meus livros.
Talvez quisesse eu estar escondida atrás das minhas barricadas: minha casa, meus livros, meus bichos... talvez. Mas, pensei, saia um pouco Andréa, respira outro ar...
Foi bom, revi amigos.
Cheguei em casa.
Liguei a TV para ver meu seriado favorito, uma vez que o Café Filosófico já tinha perdido.
Enquanto assistia à TV, fui até a geladeira pouquíssimo interessante e enganei um pouco a fome.
Acesso a internet, conversa aqui, conversa ali e vem o blog.
No primeiro momento queria postar algo, mas sem inspiração para nada. Olhei pra minha gata e resolvi me expor.
Procurei uma boa foto, uma que eu goste e pus umas frases. Tá bom ! pensei.
Cansei da web e resolvi ir dormir.
Voltando ao início...
Fechei a casa, troquei de roupa sem pressa e deitei-me ainda sentindo em mim o cheiro do óleo que usei no banho. Bom sinal, ainda tô mais ou menos limpinha.
O sono não veio. Dor de cabeça. Não consigo ler.
Levanto e me vem à mente uma chuva de coisas.
Resolvi registrar.
Pensei em pessoas de diversas tribos diferentes com as quais eu convivo, desde família a trabalho e amigos. Diversidade é riqueza e se dar bem com ela é muito bom.
Mas, todos esses seres tem uma coisa em comum: o julgamento, o pré - conceito, o preconceito, e a sensação de estarem acima do bem e do mal.
Mas, tenho quase certeza de que eles jamais se dirão assim.
Eu também sou assim, pois faço parte.
Gente que olha de soslaio porque julga mal a conversa que ouve da mesa do lado. Gente que não te viu pessoalmente e já vai tirando conclusões precipitadas do teu feriado, gente que a todo custo que invadir tua privacidade porque se deixa invadir.
Não sei ...
Acho que estou virando extra-terrestre novamente...
Ou sou Eu a máxima pessoa do julgamento, do pre-conceito, do preconceito e de estar acima do bem e do mal.
Não sou e nem estou diversidade.
Estou triste comigo e com outros, decepcionada comigo e com outros, preocupada comigo e comigo. Cobrando-me respostas, resultados, maturidade, juízo, equilíbrio.
Cobrando-me.
Minha insônia continua.
Uma e cinquenta e dois da manhã, estou pronta pra dormir: camiseta, dentes limpos, cabelos escovados, rosto lavado, creme na cara e... olhos grelados, acesos, insones.
Mente borbulhando, cinema da vida passando como um longa de horas e horas.
Amanhã vou acordar um bagaço.
E mais uma semana...
Queria recuperar meu sorriso espontâneo...

Tirar de minha cuca todas as tristezas ...

Viver, há que se suportar às vezes.

sábado, outubro 13, 2007

"É extraordinário como vamos através da vida com olhos meio fechados
com ouvidos surdos, com pensamentos entorpecidos...
Todavia, pode ser que haja poucos de nós que jamais tenha conhecido um destes raros momentos de iluminação, quando vemos, ouvimos, compreendemos, como nunca antes - todas as coisas - em um lampejo, antes de quedarmos de volta novamente em nossa agradável sonolência."

Joseph Conrad
Escritor inglês
Como as pessoas podem enganar assim as outras, não é verdade ?
Como as pessoas se deixam enganar assim pelas outras, não é verdade?
Palavras bonitas ainda são belas armas de conquista de incautos desavisados e pouco vividos.
Mas, compreendo e perdôo os desavisados, como Eu. É que estes ainda acreditam que exista sinceridade, amor, lealdade, amizade, respeito, consideração, sensibilidade da parte do outro.
E no entanto, essa pele de cordeiro nada mais é do que um disfarce para o puro egoísmo, egocentrismo, machismo.
Creio no destino, nos karmas e Darmas.
Creio que preciso aprender a viver, porém, também tenho o livre arbítrio de buscar e aceitar ou não o que a vida me apresenta.
A gente se engana por amor, por carência, por passado, por verosimilhanças ...
A gente se engana...
Mas, como todo ser humano, isso é uma passagem, uma experiência de vida.
Pra saber se é bom não tem que experimentar?
Pois é. Experimentei duas vezes por pura teimosia, já sabendo que era um doce deveras amargo e caro.
Agora sei.

segunda-feira, outubro 08, 2007

"... O Couro comeu na casa de Noca nêgo,
não teve jeito.
Na casa de Noca quando o couro come
é porque a dona quer respeito !"

domingo, outubro 07, 2007
















Bons tempos aqueles da Banda Modelo do Meu Terno, Som das Águas, Última Sessão em que eu era apenas uma adolescente tiete e cheia de paixões platônicas, apenas platônicas.


sexta-feira, outubro 05, 2007


Olha que coisinha mais fofa do mundo, depois da minha camilinha, é claro.
Esse é o "Maruim" Gabriel, filho do Mosquito Tonico do meu coração.


"A salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale à pena."

Bernanos

segunda-feira, outubro 01, 2007

Jogos de Sedução

Um amigo meu me aconselhou a viver com as diferenças dos outros.
Eu concordei e até enfatizei: tem de ser assim, pois senão viramos uma ilha.
Mas... refletindo e vivendo o dia-à-dia, faço aqui minhas ressalvas.
Viver com as diferenças desde que elas não te agridam.
Desde que o outro não queira tomar o teu espaço no mundo.
E, principalmente desde que haja RESPEITO e HONESTIDADE!