segunda-feira, junho 11, 2007

Parafraseando Vinícius no dia dos namorados


O que vem de longe

O meu amado veio de leve
O meu amado veio de longe
O meu amado veio em silêncio.

Ninguém se iluda.

O meu amado veio da treva
Surgiu da noite qual dura estrela
Sempre que penso no seu martírio

Morro de espanto.

O meu amado veio impassível
Os pés luzindo de luz macia
Os morenos braços em cruz abertos

Alto e solene.

Ao ver-me posta, triste e vazia
Num passo rápido a mim chegou-se
E com singelo, doce ademane

Roçou-me os lábios.

Deixei-me presa ao seu rosto grave
Presa ao seu riso no entanto ausente
Inconsciente de que chorava

Sem dar-me conta.

Depois senti-lhe o tímido tato
Dos lentos dedos tocar-me o peito
E as mãos longas se me cravarem

Profundamente.

Aprisionada num só meneio
Ele cobriu-me de seus cabelos
E os duros lábios no meu pescoço

Pôs-se a sugar-me.

Muitas auroras transpareceram
Do meu crescente ficar exangue
Enquanto o amado suga-me o sangue

Que é a luz da vida.

Vinícius de Moraes, 1951

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