sábado, setembro 26, 2009

E que a força do medo que tenho, não me impeça de ver o
que anseio.
Que a morte de tudo o que acredito não me tape os
ouvidos nem a boca
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra
metade é silêncio.
Que a música que eu ouço ao longe, seja linda, ainda
que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo
que distante
Porque metade de mim é partida e a outra metade é
saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como
prece, nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um
homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade
é o que calo
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na
calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia
recompensada

Que o espelho reflita em meu rosto, um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra
metade eu não sei
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito

E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é
cansaço
Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não
saiba
E que ninguém a tente complicar porque é preciso
simplicidade para fazê-la florescer
Porque metade de mim é a platéia, e a outra metade é
canção
E que a minha loucura seja perdoada,
Porque metade de mim é amor, e a outra metade...
também.

Metade - Oswaldo Montenegro

Nenhum comentário: