quarta-feira, abril 22, 2009

22:55h
Já estava deitada.
Hoje quis me deitar cedo. Engraçado isso. Às vezes tenho essa vontade de apenas deitar-me no escuro e sem pensar em nada e ao mesmo tempo em tudo.
Me cuidei e me deitei. Pus aquela meia velha, aquela t-shirt da época da faculdade e me deitei. Sem travesseiro, corpo completamente reto, coluna completamente reta, estirada.
Confortável.
E aí, me vieram as lembranças.
Lembrei-me de Paulo Roberto, meu irmão mais velho, e do sonho que tive com ele no dia em que ele se foi. Fiquei pensando... no momento em que ele estava indo embora, ao mesmo tempo ele estava me dizendo em sonho sorrindo: "dormindo né Deinha ?" era assim que ele me chamava - Deinha.
E quando amanhece, vem a minha mãe me acordar pra me dizer que ele morreu na madrugada.
Depois lembrei-me de meus avós José e Maria Aragão. Senti muito a ida do meu avô. Fui a primeira a chegar no Instituto Histórico e Geográfico da Vitória de Santo Antão, que ele fundou e onde se deu o velório. Fiquei pertinho dele até o último momento, velando-o literalmente. Fui direto de João Pessoa pra lá, depois de ter ficado a noite toda em vigília, rezando o terço por ele. Lembrei de meu pai, que se foi e eu estava trabalhando...
Lembrei das minhas perdas ....
Senti uma ponta de vontade de chorar, mas depois refleti... porque chorar se todos eles estão bem agora? livres das mazelas que molestavam seus corpos materiais. Agora estão bem, sendo cuidados.
E pensei também... perdas
Pra quê elas servem ?
Servem para nos fazer crescer e também entender que muitas vezes queremos e achamos que precisamos do impossível.
Nos iludimos achando que aquilo que por hora nos cresce aos olhos e enche o coração é tudo o que precisamos e sem isso não vivemos e no entanto... vivemos sim.
Vivemos com o que temos e quando perdemos continuamos a viver. Mesmo sentindo a perda enorme e muitas vezes tomar a consciência do que perdeu, só depois que perdeu. Isso muito acontece. Demasiado acontece.
Por isso, muitas vezes eu me arrisquei.
Saí da família e me lembrei de mim. Dos riscos que abracei e do que conquistei. Das pessoas que amei e das que tive o privilégio de ter ao meu lado. Daquelas com quem me iludi, amando profundamente, das histórias repetidas e de como, muitas vezes vivemos em circulos até aprendermos a soltar o laço e seguir um outro caminho.
Daqueles que entram na sua vida mesmo que o destino trace rotas tortas e de outros tantos com quem eu gostaria de ter vivido e no entanto ...
Tudo é muito engraçado. Tudo é muito curioso. Porém tudo é puro crescimento.
Passado, presente e futuro se misturam de um jeito estranho. O que foi passado vira presente, mas não futuro, o que é presente hoje, já é passado e o futuro ? não se sabe.
Queria que muitas pessoas lêssem esta minha escrita. Queria que muitas pessoas se identificassem com ela, como se se olhassem num espelho e se vissem refletidas.

Acabo de ler o que acabo de escever. O nó na garganta veio de novo. Mas, de novo não foi o suficiente para chegar aos olhos. Agora vou dormir e quando eu me deitar novamente, outros pensamentos encherão o vazio deixado por estes que acabei de por pra fora aqui neste lugar.

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