Amor Imorredouro, sábado, 9 de setembro de 1967
Escrever é um pouco vender a alma. É verdade. Mesmo quando não é por dinheiro, a gente se expõe muito.
O que mais interessa às pessoas? Às mulheres, digamos ?
Os homens.
Mas, que isso não nos pareça humilhante, como se exigissem que em primeiro lugar tivéssemos interesses mais universais. Não nos humilhemos, porque se perguntarmos ao maior técnico do mundo em engenharia eletrônica o que é que mais interessa ao homem, a resposta íntima, imediata e franca, será: a mulher. E de vez em quando é bom lembrarmo-nos dessa verdade óbvia, por mais encabulante que seja.
O homem. Como o homem é simpático. Ainda bem. O homem é a nossa fonte de inspiração ? É
O homem é o nosso desafio? É
O homem é o nosso inimigo? É
O homem é o nosso rival estimulante? É
O homem é o nosso igual e ao mesmo tempo inteiramente diferente? É
O homem é um menino? É
O homem é bonito? É
O homem é engraçado? É
O homem é também um pai ? É
Nós brigamos com o homem? Brigamos
Nós não podemos passar sem o homem com quem brigamos? Não
Nós somos interessantes porque o homem gosta de mulheres interessantes? Somos
O homem é a pessoa com quem temos o diálogo mais importante? É
O homem é um chato? Também
Nós gostamos de ser chateadas pelos homens? Gostamos
Poderia continuar com esta lista interminável. Toquei num ponto nevrálgico. E, sendo um ponto nevrálgico, como o homem nos dói. E como a mulher dói no homem.
Crônica de Clarice Lispector para o Jornal do Brasil.
Crônica de Clarice Lispector para o Jornal do Brasil.
Cheguei agora e muitos pensamentos povoam a minha mente.
Hoje escutei novamente que ninguém está na vida de ninguém por acaso, pois o acaso não existe.
Nasci aqui onde estou pois tenho laços com estas pessoas. Me relaciono com o mundo pois tenho de ensinar e aprender.
Amo quem amo porque de alguma forma estamos entrelaçados.
O que preciso aprender? o que preciso ensinar? o que preciso recuperar? do quê preciso me desprender?
O que é do homem o bicho não come. Esse ditado chulo me veio à mente ...
Incondicional será a palavra? Mas, essa semente já tá plantada, já brotou, mas como toda semente , precisa se regada... aquela historinha do jardim ...
Um comentário:
Andrea!
O que é para todos ninguém o quer...pois tanto o homem como a mulher se desfolham como um malmequer...o acaso é o cruzamento de todas as circunstãncias sobre as quais agimos...neste sentido tudo o que acontece é determinado pelo acaso...a crónica de Clarice lispector contém toda a sua experiência de vida e a sua alta qualidade como jornalista...mas gosto mais dela como poetiza.
beijinho,
véu de maya.
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