sábado, dezembro 20, 2008

Procurei inspiração para escrever hoje.
Cascavilhei lá dentro, no fundo do meu baú, alí pertinho do hipotálamo e nada...
Nada inspirador.
Talvez porque eu não esteja pensando em meus sentimentos e sim imaginando as possíveis pessoas que lerão estas coisas que exponho aqui e acabo receosa de não ferir ninguém, não expor ninguém.
Isso me limita.
Eita Superego ditador !!!!
Muita gente se espanta porque me exponho demais aqui "no meu canto".
Oras,
Eu tô aqui na minha, quieta, só "falando alto" com os meus pensamentos.
Não me incomoda me expor, até porque, pessoas, não me exponho.
Vocês é que acham que me exponho ou talvez têem medo de se mostrar transparente.
Cada qual com o seu cada seu!
Pois é, sem inspiração.
Será que foi o shampoo tonalizante casting que usei hoje para lavar meu cabelo colorindo-o de acaju ?
Ai meu Deus !
Mas acho que não.
Ou terá sido o aroma da "suíte" dos meus felinos hoje quando fui fazer a limpeza do lugar ?
Sabe como é né? aquelas coisas que vem de dentro ...
Tô aqui cheirando a hidratação cítrica nos cabelos, ouvindo Bob Dylan e com uma dor nas costas ... sei porque não ...
Pensei em escrever algo assim, realmente sentimental e tocante, afinal estamos no natal.
Mas, não estou conseguindo.
Nessa época do ano todo mundo aproveita para fazer as reflexões que deveriam ser diárias. Eu penso no meu futuro todos os dias. Às vezes de uma maneira muito positiva de outras de um pessimismo atroz.
"Lay Lady Lay" ... essa música é simplismente linda !!!!! tá passando agora no meu iTunes.
Essa semana soube notícias que nem sei como classificá-las, sobre amigos meus. Uma situação bem difícil. Me ponho no lugar deles e sinto a dor de cada um.
Aí, meu velho...
Tantas emoções ... perguntas, sentimentos de ausência, solidão, falta de perspectiva, necessidade de movimento de pertencer ao mundo de perder o medo e de ser diferente do comum Aragão Ferreira.
Ainda tenho em mim os resquícios de rebeldia adolescente, porém consciente.
Vontade de mudar e ser diferente. Fazer tudo diferente.
"If Not For You" ...
Bob, Bob... seus olhos azuis e sua esquisitice me encantaram. Tal qual os cabelos loiros do Tom Petty e a voz grossa e meio deprê do Johnny Cash.
Pois é ...
Voltando...
E Eu ?
Essa semana entrei num deprê tsunâmica. Quem sou, o que sou, para onde vou, o que construi até hoje?
Gente !!!!
Na verdade essas questões existenciais me assolam quase que 365 dias por ano. É literalmente cruel.
Quando era criança e ficava no meu quarto sozinha pensando na vida (meu Deus, já com dez anos eu era existencialista !!!!!!) ficaa imaginando como seria quando estivesse com 30 anos. Trabalharia? casaria? teria filhos? saberia dirigir um carro ? estaria no Brasil? falaria inglês?
Realizei pouco.
Hoje tenho quase 40 !!! com carinha de 30 (meno male), e me pego pensando como a garota de 10 anos que fui um dia ....
Como será minha velhice?
Sozinha? sem amigos? sem filhos? vivendo limitademente no sentido financeiro? Aquela velhota que um dia foi porra louca, soltou muito palavrão, aperriou a cabeça de pai, mãe e irmãos. Casou e descasou. Gostou de quem não podia e vive de lembranças do passado...
Não gostei dessa previsão.
Queria assim:
Um velhota bonitona, com cara de dez anos menos e um marido legal do lado. Viajada, que soube curtir a vida, tem amigos inteligentes ao redor e adora um isquinho e uma boa conversa construtiva. Quem sabe até uns netinhos do filho adotivo, já que quando podia ter filhos teve o famigerado medo ?
Eita reflexão maluca !!!!
Gente eu não bebi e nem fumei maconha estragada, aliás, tenho alergia à ervinha. Só o cheiro já me dá vontade de vomitar, urgh !!!
Mas, se aperreiem não que a minha inspiração volta e eu volto ao normal por esses dias.
Bob foi embora e agora Caetano chegou. Tô muito afim dele não. Vou nessa.

Um comentário:

Anônimo disse...

Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.

E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
vadeamos.

Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.

Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.

Fazia frio em São Paulo...
Nevava.
O medo, com sua capa,
nos dissimula e nos berça.

Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.

Assim nos criam burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?

Vem, harmonia do medo,
vem, ó terror das estradas,
susto na noite, receio
de águas poluídas. Muletas

do homem só. Ajudai-nos,
lentos poderes do láudano.
Até a canção medrosa
se parte, se transe e cala-se.

Faremos casas de medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.

E com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de nossa cauta subida.

O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
edifícios, escritores,
este poema; outras vidas.

Tenhamos o maior pavor,
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.

Adeus: vamos para a frente,
recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,

eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo

Carlos Drummond de Andrade