Definir o amor tem sido assunto reservado aos poetas.
Mas a neurociência, quem diria, já pode dar os seus pitacos - ao menos para explicar por que amar e ser amado são desejos tão fortes e presentes em nossa espécie.
Considerados inviáveis dez anos atrás, dada a subjetividade do assunto, exames do cérebro de voluntários que contemplam imagens da pessoa amada ou a abraçam são hoje em dia bem aceitos pela ciência.
Esses estudos mostram de que é feita a experiência do amor pelo cérebro.
A presença do ser amado ativa o sistema de recompensa, trazendo sensações de prazer, felicidade e bem-estar como um todo, que, de quebra, nos ensinam a associar a tais sensações positivas o objeto de nosso amor e nos fazem querer continuar em sua presença e até ansiar por ela.
Essa ânsia é especialmente intensa quando o amor é reforçado por sexo - o bom sexo, voluntário e prazeroso, que, com o orgasmo, leva à liberação de hormônios como a ocitocina, que ativam ainda mais o sistema de recompensa.
Se o amor é correspondido, a presença da pessoa amada é também calmante.
Mesmo longe de levar ao orgasmo, um abraço já aumenta a liberação de ocitocina, que, além de estimular o sistema de recompensa, reduz a atividade das estruturas do cérebro responsáveis pelo medo e facilita a aproximação.
Abraços amorosos nos deixam menos temerosos e desconfiados e, por conseguinte, mais confiantes no outro, otimistas e dispostos a abaixar a guarda.
Sentir-se amado é um grande ansiolítico.
Quem de fato recebe a atenção e os cuidados do objeto do seu amor não se sente sozinho e tende a ter respostas mais saudáveis ao estresse, inclusive com a produção de quantidades menores do hormônio cortisol - aquele responsável pelos estragos do estresse crônico.
Receber um abraço dessa pessoa já basta também para diminuir instantaneamente o nível de cortisol no sangue.
Até o sexo é ansiolítico, por levar, com o orgasmo, à liberação de prolactina - uma grande responsável pela sensação de bem-estar e relaxamento físico e mental que se seguem.
Dar apoio moral é uma grande demonstração de amor, crucial para manter saudável a resposta ao estresse de quem o recebe.
Mas dar carinho a quem se ama é a mais inequívoca demonstração de amor, tão importante que conta com um sistema de nervos específico para detectá-la.
Por isso, não basta amar; é preciso fazer o outro se sentir amado.
SUZANA HERCULANO-HOUZEL, Neurocientista
Um feliz Ano Novo, repleto de abraços das pessoas que você ama!
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