segunda-feira, fevereiro 26, 2007



Sou agora uma supermulher, no sentido de que o outro é um superhomem, apenas porque nós temos a coragem de atravessar a porta aberta.

Dependerá de nós chegarmos dificultosamente a ser o que realmente somos.

Nós, como todas as pessoas, somos deuses em potencial. Não falo dos deuses no sentido divino. Em primeiro lugar devemos seguir a Natureza, não esquecendo os momentos baixos, pois que a Natureza é cíclica, é ritmo, é como um coração pulsando.

Existir é tão completamente fora do comum que se a consciência de existir demorasse mais de alguns segundos, nós enlouqueceríamos.

A solução para esse absurdo que se chama "Eu existo", a solução é amar um outro ser que, este, nós compreendemos que exista.


Clarice Lispector

domingo, fevereiro 25, 2007


"Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador.
Um substantivo masculino, com aspecto plural e alguns anos bem vividos pelas preposições da vida.
O artigo, era bem definido, feminino, singular.
Era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.
Era ingênua, silábica, um pouco átona, um pouco ao contrário dele, que era um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos.
O substantivo até gostou daquela situação; os dois, sozinhos, naquele lugar sem ninguém a ver nem ouvir.
E sem perder a oportunidade, começou a insinuar-se, a perguntar, a conversar.
O artigo feminino deixou as reticências de lado e permitiu-lhe esse pequeno índice.
De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro.
Ótimo, pensou o substantivo; mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos.
Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeçou a movimentar-se.
Só que em vez de descer, sobe e pára exatamente no andar do substantivo.
Ele usou de toda a sua flexão verbal e entrou com ela no seu aposento.
Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, suave e relaxante.
Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela .
Ficaram a conversar, sentados num vocativo, quando ele recomeçou a insinuar-se.
Ela foi deixando, ele foi usando o seu forte adjunto adverbial e rapidamente chegaram a um imperativo.
Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.
Começaram a aproximar-se, ela tremendo de vocabulário e ele sentindo o seu ditongo crescente.
Abraçaram-se, numa pontuação tão minúscula que nem um período simples, passaria entre os dois.
Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula.
Ele não perdeu o ritmo e sugeriu-lhe que ela lhe soletrasse no seu apóstrofo.
É claro que ela se deixou levar por essas palavras, pois estava totalmente oxítona às vontades dele e foram para o comum de dois gêneros.
Ela, totalmente voz passiva.
Ele, completamente voz activa.
Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais.
Ficaram uns minutos nessa próclise e ele, com todo o seu predicativo do objecto, tomava a iniciativa.
Estavam assim, na posição de primeira e segunda pessoas do singular.
Ela era um perfeito agente da passiva, ele todo proxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.
Nisto a porta abriu-se repentinamente.
Era o verbo auxiliar do edifício.
Ele tinha percebido tudo e entrou logo a dar conjunções e adjectivos aos dois, os quais se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas.
Mas, ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar logo diminuiu os seus advérbios e declarou a sua vontade de se tornar particípio na história.
Os dois olharam-se e viram que isso era preferível, a uma metáfora por todo o edifício.
Que loucura, meu Deus!
Aquilo não era nem comparativo.
Era um superlativo absoluto.
Foi-se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado aos seus objectos.
Foi-se chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo e propondo claramente uma mesóclise-a-trois.
Só que, as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria no gerúndio do substantivo e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.
O substantivo, vendo que poderia transformar-se num artigo indefinido depois dessa situação e pensando no seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história.
Agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, atirou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva."

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

E como foi o Carnaval


Principais Dados

Pólos – O Carnaval Multicultural do Recife 2007 teve oito pólos montados no Bairro do Recife e 45 descentralizados (oito pólos e 37 polinhos).
Foram três mil apresentações pelas ruas da cidade, 430 agremiações carnavalescas e mais de 180 shows.

Economia/Turismo – O carnaval movimentou R$ 235 milhões em todos os segmentos envolvidos.
Além disso, circularam 500 mil turistas pela cidade no período.
Para os taxistas, o faturamento ficou entre 30% a 40% maior em relação ao ano passado.
A Infraero anunciou um crescimento de 19 vôos extras.
O Pólo Gastronômico da Central do Carnaval (Bar da Fava, Posseidon, Toca da Joana, Steffano, Dona Preta, Top Café e Fiteiro) teve um público de 70 mil pessoas e faturamento total de R$ 110 mil, com funcionamento entre 15h e 3h da manhã, durante os cinco dias.

Limpeza Urbana - A Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana colocou nas ruas 1.039 garis, divididos em equipes de varrição, coleta de material e lavagem das ruas.
Da sexta-feira (16), até a madrugada da Quarta-feira de Cinzas (21), foram recolhidos mais de 400 toneladas de lixo do Bairro do Recife e em outros bairros onde funcionaram os Pólos Descentralizados.

Saúde – A Secretaria de Saúde do Recife disponibilizou 744 profissionais para atuarem no Carnaval.
Um total de 8.489 atendimentos foi registrado nos postos de saúde montados no Marco Zero, Cais da Alfândega, Praça da Independência, Rua Floriano Peixoto e Rua do Sol, além do Samu, das policlínicas municipais, dos hospitais pediátricos e da rede conveniada.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) prestou 554 atendimentos.
As ocorrências mais freqüentes foram referentes a traumatismos causados por atropelamentos e colisões de veículos, além de casos de violência interpessoal (pessoa a pessoa).

Imprensa - Para divulgação do Carnaval, a Prefeitura do Recife montou uma equipe com cerca de 60 profissionais de comunicação, entre repórteres, assessores de imprensa (local e nacional), fotógrafos, redator/internet, além de pessoal de apoio.
Desde o dia 09 de fevereiro, foram veiculadas quase 100 matérias de televisão em rede nacional. Até o dia 18 de fevereiro foram registradas 70 matérias em rede nacional, 20 das quais ao vivo. Em relação à imprensa escrita, destaque para a presença de jornalistas do The Guardian e Observer (Inglaterra), L´Express (França) e El Clarín (Argentina), BBC, AFP (Agência France Presse) e a agência norueguesa DinSide.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

E o ano começa ...

E o ano começa de verdade, agora, após o carnaval.

Eu também começo.

Tudo de novo.

Passei um excelente carnaval ao lado de amigos, brincando, pulando, tomando umas e outras ...

Esse carnaval foi tranquilo. Recife e Olinda estão de parabéns !

Aliás, Salvador também está.

As atitudes dos gorvenistas de misturarem os carnavais foi no meu entender muito interessante.

A reunião no Galo da Madrugada dos governadores de Minas, Bahia, Paraíba, Pernambuco e Rio de Janeiro, além do Ministro do Turismo, acredito Eu, tenha sido produtiva e desmistificado as "birras" entre os Estados sobre quem faz o melhor carnaval. O Brasil faz o melhor Carnaval.

Os convidados deste ano: Gal, Bethânia, Zeca baleiro, Paulinho Moska, entre outros e fora do contexto carnavalesco, foi muito bom.

Alceu e Maestro Duda na Bahia, foi muito bom. Moraes Moreira no Recife, as bandas do Rio e São Paulo na semana pré, também fui muito legal, dá a oportunidade aos pernambucanos a ver como nosso país é rico em cultura.

E ainda tem gente que não concorda com isso. Mas ninguém pode agradar a gregos e troianos.

É possível brincar em todos os ambientes, todos os ritmos.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Desculpe estou um pouco atrasado
Mas espero que ainda dê tempo
De dizer que andei errado e eu entendo

As suas queixas tão justificáveis
E a falta que eu fiz nessa semana
Coisas que pareceriam óbvias até pr'uma criança

Por onde andei enquanto você me procurava
Será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me
faltava

Amor eu sinto a sua falta
E a falta é a morte da esperança
Como um dia que roubaram seu carro
Deixou uma lembrança
Que a vida é mesmo coisa muito frágil
Uma bobagem uma irrelevância
Diante da eternidade do amor de quem se ama

Por onde andei enquanto você me procurava
E o que eu te dei foi muito pouco ou quase nada
E o que eu deixei algumas roupas penduradas
Será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me
faltava

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Relax ...

Hoje tô com preguiça de sair ...
Acordei muito tarde e me enchi de comida. Estou redonda, hehehehe...

Arrumei algumas coisinhas na minha casa e agora estou com a mente voltada para as novidades.
O ano começa de verdade agora ...
Vamo "simbora" !!!

Mais Carnaval


Hoje o meu carnaval foi diferente...
Levei minha adorável mãe para o Arsenal da Marinha para ela ver os blocos líricos.
Saí atrás de algumas troças, blocos e fiquei com o meu povo.
Depois de curtir o carnaval com ela e meus irmãos, fui para o meu canto: Casa da Moeda.
Ah ! antes fui visitar o povo do Paço Alfândega.
Na Casa da Moeda conheci a mais nova arte de Serginho: O Chupa - cabra, ahahahahaha !!
Vão lá pra ver antes que ele o capture !
Tomei umas e outras com os amigos e fui pular o carnaval no marco zero, no show da Gal.
Tive a grata surpresa de ser levantada e posta nos ombros do meu amigo pra ver o show melhor, putz !!!!
foi legal demais !!!
Ele pulou frevo comigo nos seus ombros ...
Gritei muito, dancei e curti demais o Marco Zero, a Praça do Arsenal e a Rua da Moeda.
Nilson, meu velho, valeu pelo dia de hoje !!!!! Show de bola !!!!!

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Carnaval na Moeda

Ontem foi legal.
Fui pra minha parada obrigatória: Rua da Moeda, mas precisamente, Casa da Moeda.
A Casa de Serginho e Patrícia.
Lá tomei minhas doses e conversei com o povo. Encontrei a turma do Quanta Ladeira e bati um papo com o povo deles.
O Arsenal estava mais ou menos...
Mas, é sempre bom, bater um papo aqui outro ali, encontrar pessoas, conhecer outras ...
E depois do carnaval, a vida começa de novo.

domingo, fevereiro 18, 2007

20 anos


Durante mais ou menos 20 anos, Eu admiro uma pessoa.
Acho essa pessoa bonita por inteiro, por dentro e por fora.
Ele não acredita.
Ele não acredita que apesar de todos os defeitos a que ele se impõe, eu o acho especial, único e, como já falei em outros textos, ele é o que me agrada.
Adorável, diga-se.
Mas, acho que lá no fundo, ele sabe disso;
não é, Adorável Misterioso ?
Nunca esqueça que "Te adoro".
Independente de tudo e qualquer coisa.
É claro que existem mil e uma coisas que não são perfeitas, não estão ao meu alcance de resolvê-las...
Existem coisas, situações quase que impossíveis de mudar...
desejos de futuro praticamente utópicos de concretude, mas ...
O aqui e agora já tá valendo muito.
Até porquê, há 20 anos eu achava que certas pessoas nem iriam saber que eu existia ...
E achei que tudo isso era coisa de menina boba...
Mas, hoje na maturidade balzaquiana em que me encontro e no que acredito como divino, o que tem de passar na minha vida, vai passar agora ou lá na frente.
E, além do mais, eu disse, lá atrás nos 20 anos que eu iria viver isso que tô vivendo hoje.
Demorou, mas chegou.
Era pra ser agora e não há 20 anos atrás.
Por isso, estou aqui e agora, mostrando pra você e pra um monte de gente que lê o meu blogger e que não tá entendendo nada disso aqui, talvez curiosos, talvez não, que você é, como poderia qualificar ...
usando suas próprias palavras:
"Sublime em minha vida".

sábado, fevereiro 17, 2007


Carnaval, tudo de bom !!!

Hoje foi o dia de Olinda. Putz !!!! quanta gente bonita !
O sol estava à pino, mas a alegria compensou.
A única coisa que não acho legal, é essa história de beija beija de graça. Pode ser careta da minha parte, mas... urgh !!!! tô fora.

Meu Recife é Tudo o que há de mais lindo no Planeta !!!!!

Pessoas,

É, para mim, extremamente incompreensível, algum ser humano não gostar da festa profana mais adorável do mundo e ainda mais se for em Pernambuco!!!!!!!!!!!
Quem sou eu para julgar, mas ...
Festa linda, cheia de alegria, de música, de fantasias ... imagina ? Você pode ser o Padre, ou Jesus, ou o Caranguejo do Manguebeat, ou ainda o diabo louro de Alceu Valença!
O Frevo que LITERALMENTE entra na cabeça, depois toma o corpo e acaba no pé !!!!
Você só vê sorrisos !!!
Bom, pelo menos, Eu até hoje , na minha humilde existência, só vi coisa boa no Carnaval !!!
Hoje pus uma roupa bela e fui, sozinha, me alegrar, não precisei de muito tempo pra isso. Bastou sair atrás dos blocos líricos pelas ruas do Recife Antigo até o Marco zero.
Lá me arrepiei ao ouvir os 500 tambores de Naná Vasconcelos e mais ainda ao ouvir os clarins anunciando a chegada do reinado de Momo !!! fogos enfeitaram o céu, tambores rufantes, a massa vibrando ... e eu fiz parte disso. Eu estava lá, saudando o meu Recife quando ele se abre para o carnaval, festa de todos.
Depois, encontrei os amigos, conheci outros, vi muita gente bonita, tomei algumas e ri muito; quase mordo as orelhas, ahahahahahahah!!!!!!
Podem me chamar de bairrista, tô pouco me lixando ...


Mas, NENHUM LUGAR DO MUNDO, é melhor do que o meu lugar: O Recife !!!!!!!!!!!

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

CONSUMO, LOGO EXISTO - Frei Betto

Amigos,
Recebí este texto de outros amigos e achei deveras interessante e sobretudo verdadeiro. Vamos refletir !

Ao visitar em agosto a admirável obra social de Carlinhos Brown, no Candeal, em Salvador, ouvi-o contar que na infância, vivida ali na pobreza, ele não conheceu a fome.
Havia sempre um pouco de farinha, feijão, frutas e hortaliças.
"Quem trouxe a fome foi a geladeira", disse.
O eletrodoméstico impôs à família a necessidade do supérfluo: refrigerantes, sorvetes etc.
A economia de mercado, centrada no lucro e não nos direitos da população, nos submete ao consumo de símbolos. O valor simbólico da mercadoria figura acima de sua utilidade.
Assim, a fome a que se refere Carlinhos Brown é inelutavelmente insaciável.
É próprio do humano - e nisso também nos diferenciamos dos animais - manipular o alimento que ingere.
A refeição exige preparo, criatividade, e a cozinha é laboratório culinário, como a mesa é missa, no sentido litúrgico. A ingestão de alimentos por um gato ou cachorro é um atavismo desprovido de arte.
Entre humanos, comer exige um mínimo de cerimônia: sentar à mesa coberta pela toalha, usar talheres, apresentar os pratos com esmero e, sobretudo, desfrutar da companhia de outros comensais.
Trata-se de um ritual que possui rubricas indeléveis.
Parece-me desumano comer de pé ou sozinho, retirando o alimento diretamente da panela.
Marx já havia se dado conta do peso da geladeira.
Nos "Manuscritos econômicos e filosóficos" (1844), ele constata que "o valor que cada um possui aos olhos do outro é o valor de seus respectivos bens".
Portanto, em si o homem não tem valor para nós.
"O capitalismo de tal modo desumaniza que já não somos apenas consumidores, somos também consumidos."
As mercadorias que me revestem e os bens simbólicos que me cercam é que determinam meu valor social.
Desprovido ou despojado deles, perco o valor, condenado ao mundo ignaro da pobreza e à cultura da exclusão.
Para o povo maori da Nova Zelândia cada coisa, e não apenas as pessoas, tem alma.
Em comunidades tradicionais de África também se encontra essa interação matéria-espírito.
Ora, se dizem a nós que um aborígine cultua uma árvore ou pedra, um totem ou ave, com certeza faremos um olhar de desdém.
Mas quantos de nós não cultuam o próprio carro, um determinado vinho guardado na adega, uma jóia?
Assim como um objeto se associa a seu dono nas comunidades tribais, na sociedade de consumo o mesmo ocorre sob a sofisticada égide da grife.
Não se compra um vestido, compra-se um Gaultier; não se adquire um carro, e sim uma Ferrari; não se bebe um vinho, mas um Château Margaux.
A roupa pode ser a mais horrorosa possível, porém se traz a assinatura de um famoso estilista a gata borralheira transforma-se em cinderela...
Somos consumidos pelas mercadorias na medida em que essa cultura neoliberal nos faz acreditar que delas emana uma energia que nos cobre como uma bendita unção, a de que pertencemos ao mundo dos eleitos, dos ricos, do poder.
Pois a avassaladora indústria do consumismo imprime aos objetos uma aura, num espírito, que nos transfigura quando neles tocamos.
E se somos privados desse privilégio, o sentimento de exclusão causa frustração, depressão, infelicidade.
Não importa que a pessoa seja imbecil.
Revestida de objetos cobiçados, é alçada ao altar dos incensados pela inveja alheia.
Ela se torna também objeto, confundida com seus apetrechos e tudo mais que carrega nela mas não é ela:
bens, cifrões, cargos etc.
Comércio deriva de "com mercê", com troca.
Hoje as relações de consumo são desprovidas de troca, impessoais, não mais mediatizadas pelas pessoas.
Outrora, a quitanda, o boteco, a mercearia, criavam vínculos entre o vendedor e o comprador, e também constituíam o espaço das relações de vizinhança, como ainda ocorre na feira.
Agora o supermercado suprime a presença humana. Lá está a gôndola, pobreza e a cultura da exclusão.
Lá está a gôndola, abarrotada de produtos sedutoramente embalados.
Ali, a frustração da falta de convívio é compensada pelo consumo supérfluo.
"Nada poderia ser maior que a sedução" - diz Jean Baudrillard - "nem mesmo a ordem que a destrói.
E a sedução ganha seu supremo canal na compra pela internet.
Sem sair da cadeira o consumidor faz chegar à sua casa todos os produtos que deseja.
Vou com freqüência a livrarias de shoppings.
Ao passar diante das lojas e contemplar os veneráveis objetos de consumo, vendedores se acercam indagando se necessito algo.
"Não, obrigado. Estou apenas fazendo um passeio socrático", respondo.
Olham-me intrigados.
Então explico: Sócrates era um filósofo grego que viveu séculos antes de Cristo.
Também gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas.
E, assediado por vendedores como vocês, respondia:
"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz."

terça-feira, fevereiro 13, 2007


Apesar da falta,
A felicidade existe,
A vontade é forte
E o prazer persiste.
Não sei como começar ...
Hoje estou triste.
Triste com o meu lado profissional.
Estou cada dia mais me decepcionando com as coisas e as pessoas.
Tenho certeza da minha profissão e de como sou feliz em realizá-la, porém dentro de total honestidade, sem subterfúgios, sem brigas por poder, sem competições desleais...
Sem comparações ridículas.
É muito triste quando nos decepcionamos em qualquer situação que seja.
Acredito que também decepcionei pessoas...
Será que nasci pra ter chefe ? estar inserida em processos e normas com as quais eu não concordo ?

sábado, fevereiro 10, 2007

Amor ...
Paixão...
Insistimos em definir estes sentimentos ao invés de apenas sentí-los.
Nosso sentimento para com o outro é sempre muito exigente e ao mesmo tempo incompreendido. Porque se esquece que antes dos dois serem um, eles são dois indivíduos diferentes ... ideologias e definições sobre tudo diferentes ...
Como querer entender absolutamente tudo ?
Impossível essa proeza ao ser humano.
Eu amo.
Amo alguém de maneira profudamente intensa, porém acho eu ele não perceba, pois só eu sei a intensidade do meu amor, uma vez que nele estou, nele vivo, subsisto.
O outro, objeto do meu imenso amor também me gosta, me adora, sente-se apaixonado. Também não sei dele o seu amor... está nele, e o que recebo dele é o que sinto na reciprocdade do meu amor.
Complicado ?
não.
A gente é que deixa tudo ser complicado.
Eu o amo com muita pureza no coração. O amo com o melhor dos meus sentimentos. O mais ingênuo, o mais bobo, o mais criança, o mais real. Tão real que, às vezes, dói.
Projetos de futuro, estão no futuro. Querer o futuro ? MUITO!!!
Projetos ? tenho vários ao lado do amor que amo. Mas ... não é tão fácil quanto parece...
Eu quero tudo !
dormir, acordar, fazer amor na chuva, sair, me embriagar, cantar, viajar, conhecer o dia - à - dia, aprender com, enfim ... Quero muito tudo.
Mas, aqui e aogra o que tenho é menos do que isso, porém é intenso, é bonito, é amor, paixão, é muita coisa boa ...
Então, não nos apeguemos a significados de Aurélio sobre garras e unhas e vamos viver o que há pra viver...
Pode ser ?

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Apesar de ...

Ontem à noite estive na UBE - União Brasileira de Escritores - para o lançamento do livro de poesias de Esther Steremberg, Psicoterapeuta de primeira linha na abordagem centrada na pessoa, poetisa, escritora.
Além do ambiente extremamente agradável, de pessoas inteligentes e cultas, ouvi as mais belas poesias, que realmente tocam a alma, como essa:

Apesar da falta
A felicidade existe
A vontade é forte
E o prazer persiste

Apesar da insensatez
A consciência está desperta
O poderoso é incauto
Mas o humilde é alerta

Apesar da falsidade
A verdade se propaga
Faz bem a autenticidade
E a fala do tolo o tempo apaga

Apesar do ilusório
O incontestável é evidente
Contabilizar os próprios erros
Quando a clareza se faz presente

Apesar dos julgamentos
Há argumentos de defesa
E em nome do perdão
Todos podem sentar na mesma mesa

Apesar de tantos ódios
Tanta incompreensão, tanta dor
Que se unam os diferentes
Buscando justiça e amor.

Esther Steremberg

quinta-feira, fevereiro 08, 2007




História de "Umas Gatas"

Chico Buarque


Me alimentaram

Me acariciaram

Me aliciaram

Me acostumaram

O meu mundo era o apartamento

Detefon, almofada e trato

Todo dia filé-mignon

Ou mesmo um bom filé...de gato

Me diziam, todo momento

Fique em casa, não tome vento

Mas é duro ficar na sua

Quando à luz da lua

Tantos gatos pela rua

Toda a noite vão cantando assim

Nós, gatos, já nascemos pobres

Porém, já nascemos livres

Senhor, senhora ou senhorio

Felino, não reconhecerás

De manhã eu voltei pra casa

Fui barrada na portaria

Sem filé e sem almofada

Por causa da cantoria

Mas agora o meu dia-a-dia

É no meio da gataria

Pela rua virando lata

Eu sou mais eu, mais gata

Numa louca serenata

Que de noite sai cantando assim

Nós, gatos, já nascemos pobres

Porém, já nascemos livres

Senhor, senhora ou senhorio

Felino, não reconhecerás

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Começo a conhecer-me.
Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
Ou metade desse intervalo,
porque também há vida...
Sou isso, enfim...
Apague a luz,
feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato.
Álvaro de Campos

domingo, fevereiro 04, 2007


Fevereiro chegou.
Com ele o carnaval.
Momento de ser o que se é sem medo de julgamentos
Um Executivo transforma-se numa virgem de Olinda ou num personagem qualque do "Enquanto Isso na Sala de Justiça".
Dançamos ao som maravilhoso do frevo. Malemolência genuinamente pernambucana, trazida dos negros.
Quer festa melhor ? festa profana que faz mexer todo o corpo, atiça a criatividade e faz com que expurguemos, pelo menos por quatro animados dias todas as nossas mazelas, desgostos. Uma verdadeira catarse !!!!
Que o carnaval seja bom pra todo mundo !!!!!!

Eu estou me sentindo bem.
Quero felicidade pra todo mundo, hoje e sempre !

Salve o Frevo e Pernambuco !

Tenho muito orgulho de ser filha desta terra, rica em tudo: comida, história, povo, clima, geografia, vixe lugar arretado de bom pra se viver !!!!!

Posso ir pra qualquer parte do mundo, mas o meu lugar é Pernambuco !!!!!!!!!!!!!!!!